domingo, 27 de abril de 2008

Entrevista da Adriane Galisteu para revista Veja em 1999

Entrevista da Adriane Galisteu para revista "VEJA" - Páginas Amarelas (08/09/1999)

"Eu adoro dinheiro"
Com poucas lágrimas e muita determinação,a modelo avança como um tratorna batalha por sua meta: fama e fortuna. (Thaís Oyama)

"Detesto hipocrisia e gosto de gastar. Gosto de luxo. O meu dinheiro, eu dôo é para minha conta, até porque já passei necessidade"

Adriane Galisteu é uma mulher que sabe o que quer. Recém-separada do publicitário Roberto Justus, com quem viveu um casamento relâmpago de oito meses, a modelo afirma que sua prioridade é a carreira – e que, por ela, não poupa energia nem coração. Focada em sua meta com a concentração daqueles que vieram ao mundo para fazer sucesso, ela avisa: "Eu não brinco em serviço". A mãe, Emma, melhor amiga e a única pessoa no mundo em quem diz confiar inteiramente, é testemunha: "Ela não chora pelo leite derramado. Ama o que faz e passa por cima de qualquer coisa para ter o que quer". Nesta entrevista, a modelo chorou, sim, algumas lágrimas sobre o leite derramado do casamento desfeito. Deixou claro, porém, que não é do tipo que fica em casa, sofrendo.
O fenômeno Adriane Galisteu nasceu quando o namorado e ídolo nacional Ayrton Senna morreu. Mas explodiu e fulgura até hoje, numa trajetória ascendente cujo apogeu não parece à vista, porque ela decidiu que seria assim. Aos 26 anos, rica e poderosa, está mais linda do que nunca – e ainda mais obstinada.

Veja – Você está sofrendo com a separação?
Adriane – Sofri, não vou dizer que não. Mas também não estou fazendo disso uma tragédia. Não é nada que se compare ao que já passei na minha vida. O Roberto está vivo, eu estou viva. Todo mundo casa e se separa um dia. Isso é pouco para mim. Eu me separei num sábado à tarde. À noite fui fazer a peça. O que é que o público tem a ver com minha separação? Passei um colírio, peguei o carro e fui para o teatro. Eu passo pelas coisas. Passo mesmo.

Veja – Não vai ter volta?
Adriane – O casamento tem de ter atração, sexo, alegria, compatibilidade de gênios.

Veja – O seu não tinha essas coisas?
Adriane – Claro que tinha! Eu não brinquei de me casar, nem o Roberto. Não preciso disso para aparecer na imprensa, é só as pessoas olharem aonde cheguei. Vivi uma coisa muito intensa com o Roberto, uma coisa doida que nunca tinha sentido antes. Nossa relação foi ótima do começo ao fim, o sexo inclusive. Mas não deu certo, e não vou ficar sofrendo porque as pessoas querem que eu sofra. Nem fui pegar minhas coisas para não sofrer. Mandei alguém pegar – as roupas e uma foto minha de que gosto muito, só.

Veja – Vocês devolveram os presentes?
Adriane – O quê? Você conhece algum casamento em que acontece isso? O homem devolve o relógio, a mulher devolve o Mercedes?

Veja – Conheço.
Adriane – Nossa, acho tão feio isso.

Veja – Você diz que seu casamento terminou por incompatibilidade de horários. Seu namoro com o empresário Júlio Lopes também acabou assim. Você não tem medo de se transformar em mais uma loira famosa e solitária?
Adriane – Nem um pouco. Tenho certeza de que vou encontrar alguém ainda, nem que tenha de me separar dez vezes. O problema com o Júlio não teve nada a ver com agenda. Foi que a coisa ficou morna, e eu detesto coisa morna. Com o Roberto, sim. Ele é um homem extremamente voltado para a família, adora passar o fim de semana com os filhos no sítio. Ele tentou me transmitir isso: que família também é importante e tem uma hora em que é preciso puxar o freio no trabalho. Eu sei disso, mas essa hora não chegou para mim. Eu disse para ele: "Você tem 44 anos e eu tenho 26. Quando você tinha 26, pensava assim?" O Roberto queria que eu desacelerasse. Eu não vou fazer isso. Eu só acelero.

Veja – Você nem cogitou em diminuir o ritmo?
Adriane – Cheguei a pensar. Quando ele falou comigo, tentei conversar, tentei evitar a separação. Mas o que ouvi foi o seguinte: "Do jeito que está eu não quero". Respondi na hora: "O.k., então". O que vou fazer? Cancelar os contratos que assinei? Por que ele não me acompanha no trabalho? Por que só a mulher tem de acompanhar o homem?

Veja – Ele disse que você é egoísta.
Adriane – Egoísta? Não sei o que as pessoas querem dizer com isso. Para você amar alguém, precisa primeiro se amar. Isso não é uma questão de egoísmo. O que é não ser egoísta?

Veja – Abrir mão de alguma coisa pelo outro?
Adriane – Desde que não seja meu trabalho, o.k.

Veja – Fazer alguma coisa pelo outro, para o bem do outro?
Adriane – Para o bem do outro? Não, só faço pelo meu bem. Essa coisa de dar sem cobrar, dar sem pedir não existe. Depois, você acaba jogando isso na cara do outro.

Veja – Você nunca cede, então?
Adriane – Cedo, claro que cedo. Já cedi em coisas que não afetam minha vida. Ele gosta de dormir em lençol de linho e eu gosto de dormir em lençol de seda. Aí dá para ceder. Não dá é para ceder na vida profissional. Trabalho é trabalho. Deixei de fazer tudo pelo Ayrton e não deu certo.

Veja – Por quê?
Adriane – Eu não tinha um tostão, não tinha dinheiro para comprar um pastel. Meu irmão estava doente, com Aids [ele morreu em maio de 1996], minha mãe ganhava 190 reais do INSS, meu pai já tinha morrido. Eu sustentava todo mundo e não tinha poupança alguma. Quando o Ayrton morreu, acabou. Ele me dava uma espécie de mesada, uma coisa pequena, que era o que eu ganharia se não tivesse parado com tudo para ir atrás dele pelo mundo. Depois do acidente, fiquei vivendo de favor na casa do Braga [o empresário carioca Antônio Carlos de Almeida Braga, grande amigo de Ayrton Senna]. Ele pagava minhas contas, as contas de minha casa, de minha mãe. Só eu sei o que sofri. Além de perder o cara que amava, fui agredida, julgada. Eu não tinha esse jogo de cintura que tenho hoje. Era Adriane Galisteu, a oportunista. Essa palavra, oportunista, virou meu sobrenome. Isso quase me levou à loucura. E é uma injustiça, porque nunca saí vendendo capacete do Ayrton, chaveirinho do Ayrton. Você não sabe o que é o Brasil inteiro brigando com você. Parecia que eu tinha matado o Ayrton.

Veja – É por isso que você é sempre tão defensiva?
Adriane – Defensiva? Não acho que eu seja defensiva.

Veja – Em quem você confia?
Adriane – Cem por cento? Só na minha mãe. E em mim também.

Veja – E os amigos?
Adriane – Em alguns eu confio 99%. Na minha situação, não dá para eu confiar 100% em todo mundo. Por exemplo: às vezes, saem coisas sobre mim nos jornais que só pessoas muito próximas sabem. Como é que isso vai parar nos jornais? Vai porque quem falou é alguém que está muito perto de mim. E para saber quem é? Isso é uma loucura. Eu não posso sair confiando nas pessoas. Não tenho motorista nem segurança por isso mesmo. É mais gente para te trair. Eu confio mais nos bichos do que nas pessoas. Aliás, existem pessoas que acham que tenho amnésia. Muitas das que convivem comigo hoje já me viraram a cara quando eu estava por baixo. Mas você pensa que as trato mal? Trato com a maior naturalidade. Porque elas podem até me usar, mas eu vou usá-las também. É uma troca.

Veja – Você gosta de dinheiro?
Adriane – Adoro dinheiro e detesto hipocrisia. Gasto, gosto de gastar. Gosto de luxo, gosto de não fazer conta, de viajar de primeira classe. Tem gente que fala: esse dinheiro que ganhei eu vou doar. O meu eu não dôo, não. O meu eu dôo é para minha conta. Eu adoro fazer o bem, mas também tenho minhas prioridades: minha casa, minha família. Primeiro, vou ajudar quem está mais próximo. Mas faço minhas campanhas beneficentes. Já fiz muitas. Quando posso, também dou, mas sem demagogia. Só não sou perdulária, até porque já passei necessidade.

Veja – De que tipo?
Adriane – Já tive vontade de viajar e não podia. Queria ter carro e não tinha. Eu queria ter feito faculdade, não tive dinheiro. Não que eu sinta falta de livros, porque livro a gente compra na esquina e conhecimento a gente adquire na vida. Eu sinto falta de contar para os amigos essas histórias que todo mundo tem, do tempo da faculdade.

Veja – E da fama, você gosta?
Adriane – Adoro. Acho um absurdo as pessoas que falam: "Detesto quando estou comendo e me pedem autógrafo". Sabe, essa coisa blasé? O que acho muito chato é não ser reconhecida, entrar num lugar e ninguém me olhar, ninguém pedir um autógrafo. Isso, sim, é péssimo. Se não estou a fim de ver gente, não saio de casa. Quando piso na rua, posso estar morta, quebrada – mas estou sempre pronta a dar o melhor sorriso para o público. Nunca me recusei a dar um autógrafo.

Veja – Nunca?
Adriane – Nunca. Há dois anos, tive um problema de stress, minha glote fechou, quase tive de fazer traqueotomia. Foi muito sério. Fui internada e entrava gente no quarto do hospital para pedir autógrafo. Eu, toda entubada, pedia caneta, esticava o braço e assinava. Quem fala que não gosta disso está sendo hipócrita. Esse não é o preço da fama. É o prazer da fama.

Veja – E o preço?
Adriane – O preço acho que é o lado pessoal. Você não pode ser forte em todos os campos da vida. Se fosse assim, eu estaria com o Beto até hoje. Minha força é centrada para uma coisa: o profissional. O lado sentimental acaba ficando aberto mesmo. É mais difícil para mim.

Veja – E isso a incomoda?
Adriane – Incomoda um pouco.

Veja – Como?
Adriane – Parece que os homens ficam apavorados comigo. Tanto que não sou cantada. A última pessoa que me cantou foi o Roberto, e me casei com ele. Pergunta se alguém me convida para jantar, a não ser meus amigos. Pergunta se meu telefone toca. Toca para trabalho. Um dia, na rua, um rapaz de moto passou e mexeu comigo. Quando olhou para minha cara, falou: "Desculpa, não sabia que era você". Eu sinto um pouco a falta dessas situações normais. Mas tenho outras coisas. Então, penso: "Bom, não tenho isso, mas tenho o profissional". As pessoas têm de ser felizes com a situação que têm. Eu tenho o profissional e sou feliz aí.

Veja – Você já traiu?
Adriane – Já traí e já fui traída. Mas isso foi na época dos namoros menos sérios.

Veja – E o Ayrton?
Adriane – Não.

Veja – O Júlio?
Adriane – Não.

Veja – O Roberto?
Adriane – Não.

Veja – Nenhum deles?
Adriane – Não. Quer dizer, depende do que você entende por traição. Eu te dou três opções de traição. É mais traição você sair com outro homem ou viver com um homem que você não ama e não ser verdadeira com ele? A pior traição não tem a ver com essa coisa de pele.

Veja – Entre essas três opções, você já cometeu alguma?
Adriane – Eu sempre fui verdadeira com todos os meus homens.

Veja – Que erros você acha que cometeu?
Adriane – O mais recente foi ter me casado com o Roberto, em vez de continuar namorando. Se eu o estivesse namorando, estaria com ele até hoje.

Veja – Você ama o Roberto ainda?
Adriane – Por que você está me fazendo essa pergunta?

Veja – É uma entrevista.
Adriane – Acho que não tem nada a ver. Nem quero que você coloque essa pergunta.

Veja – Você acha que ela é ofensiva?
Adriane – Acho que é uma situação muito delicada. Você quer que eu fale o quê? Que o amo? Que estou sofrendo?

Veja – Foi uma pergunta.
Adriane – Você quer que eu fique fragilizada em relação a ele? Isso é muito delicado. O que posso te dizer é que eu gostaria que as coisas não fossem assim. Não brinquei de me casar. Gostaria de estar casada ainda. Mas vou fazer o quê? É o tipo da pergunta maldosa. Estou falando que estou numa boa, que estou focada no meu profissional, e você pergunta se amo o Roberto?

Veja – Você prefere falar só de seus sucessos, não tem derrota?
Adriane – Mais derrota do que uma separação depois de oito meses? Vocês querem o quê? Que eu fique em casa sofrendo? Não entro em depressão. Estou fora dessa droga, não adianta. Isso não vai me pegar. Sofrimento é ver meu pai morrer quando eu tinha 15 anos de idade sem nem poder me despedir dele. Sofrimento mesmo é estar cheia de dinheiro no banco e ver o irmão morrer numa cama de hospital sem poder fazer nada. Escuta: separação é pouco para mim. Eu passo que nem um trator por essas coisas. Passo mesmo.

Veja – Você já está há bastante tempo na mídia...
Adriane – Seis anos. E me orgulho disso. Fazer sucesso não é difícil. Qualquer anônimo que quiser vira pessoa pública amanhã. É só saber usar uma situação. Eu tive uma oportunidade e soube aproveitá-la. Não aconteci e depois apaguei. Hoje tenho um público fiel, um público que conquistei e que me adora. Tenho programa de rádio, TV, oito produtos licenciados com meu nome. E está dando certo. As pessoas no Brasil, em geral, têm medo de falar de dinheiro. Eu não tenho medo de falar disso, não vejo nada de errado ou de vergonhoso nisso. Só não falo em números porque vivemos num país muito violento e com muita miséria. Eu mereço o que tenho, porque não estou brincando de ser famosa. Posso me divertir, posso adorar o que faço, mas olha: eu não brinco em serviço.

Veja – E aonde você quer chegar?
Adriane – Pode ter certeza de que não estou nem no meio da escada.


Nenhum comentário: